Desafio
Em um tempo no qual
compreender um texto escrito é um privilégio para os esforçados, lançar um
desafio em palavras escritas poderá resultar em algo vão. Mas, bora tentar.
Destrave-se de seus
preconceitos, se for possível, e procure entender a mais bela história de amor
do universo, a qual, infelizmente, é a história mais erroneamente interpretada
por grande parte da humanidade. Oxalá, após concluir a interpretação desta porção
você possa ser um daqueles que não se encontram dentro dessa enorme massa
homogênea.
Até mesmo muitos dos assim chamados cristãos
não possuem um entendimento adequado do que realmente a Bíblia transmite em sua
essencialidade. De semelhante forma a uma cidade – a qual possui muitos
bairros, ruas, vielas, becos, praças e avenidas – a Bíblia trata de vários
assuntos e se você não conhecer sua “avenida central” certamente irá se perder
ao andar por “essa cidade”.
O pensamento central
da Bíblia é que Deus quer transmitir-se a si mesmo – e nenhuma outra coisa,
seja: religião, filosofia, comportamento, ajuda, etc.—para dentro do homem que
criou. Cabe aqui uma ressalva: Como Deus não opera da mesma maneira que seu
inimigo, a qual é impondo goela abaixo muitas coisas, antes Deus é um
gentleman, Ele espera pacientemente que suas criaturas o entendam por completo.
Essa tal transmissão (entendida também como o dispensar ou ato de fornecer,
prover) ocorre de uma tal maneira que pode até mesmo tornar-se o objeto central
do que este texto busca explicar ou desafiar.
A nossa língua
portuguesa (bem como outras também) possui signos distintivos ou letras que nos
permitem diferenciar, decodificar, interpretar e finalmente entender ou
conhecer o universo ao qual pertencemos. Digo isso porque na Bíblia temos
espírito (em minúscula) e Espírito (em maiúscula) e é exatamente essa
diferenciação uma das chaves mestra para o entendimento adequado da transmissão
divina ao homem. Espírito em maiúscula diz respeito ao Espírito divino, ao
passo que espírito em minúscula refere-se ao espírito humano. Nesse momento
muitas pessoas tropeçam, pelo simples fato de não conhecer a si mesmo, ou seja,
de não saber que possuem não apenas um corpo e uma alma, mas também um
espírito. Aqui existe uma enorme confusão, repito, uma enorme confusão, trevas
e ignorância. A Bíblia não exige nada das pessoas, e eu também não quero exigir
nada de você. Antes a Bíblia nos apresenta fatos, histórias, romance, poesia,
e, enfim registros. A sua indiferença ou empenho não alterará a Bíblia, mas se
você procurar entender “o porquê” que o homem foi criado com um espírito
humano, isso será o início de virtudes tão buscadas e raramente encontradas:
sobriedade, paz, alegria e justiça.
A estas alturas
você pode pensar que estou falando de religião, mas acredite, isso é um
preconceito seu. Mas vou continuar escrevendo.
Quando uma pessoa
se abre com Deus isso é religião? Quando ela clama, na iminência de um acidente
acontecer; é religião? Até mesmo quando tudo aparentemente esta bem e ela chama
por Deus, é religião? Afinal, o que é religião então? No diminuto, mas
essencial, entendimento que tenho sobre religião, sei que religião é o homem
que busca por Deus, deseja religar-se a Deus. Isso porque em algum momento tal
homem desligou-se de Deus e, então, quer ligar, unir novamente esse
relacionamento. Um dos grandes e senão o maior dos erros humanos é tentar
colocar isso em prática sem o conhecimento adequado de como isso funciona. Um
bom exemplo disso temos na Bíblia. Refiro-me ao Apóstolo Paulo. Junto aos seus
contemporâneos ele era o mais irrepreensível dentro de sua religião (o
judaísmo). O mais zeloso, o maior conhecedor das Escrituras, o então Saulo de
Tarso era quem buscava agradar a Deus a sua própria maneira e, mesmo assim, na
prática, seu conhecimento não era suficiente para perceber que os tempos
estavam mudando e que matar cristãos em nome de Deus não era a prática adequada
de sua religião. Até o momento no qual caiu do cavalo, literalmente, e então as
escamas de seus olhos foram removidas para que ele pudesse compreender que os
tais cristãos, os seguidores de Cristo, eram até mesmo mais praticantes do que
ele, e até mesmo, Deus na terra. Daí, podemos deduzir que um dos aspectos do
que muitos entendem por religião é o seguinte: buscar agradar a Deus, mas sem
possuir Deus dentro de si. Sem saber, conhecer, a maneira que verdadeiramente
Deus deseja que Ele seja servido e, então fabrica, constrói uma maneira a qual
as Escrituras não dizem que deve ser. E, por mencionar muitas porções da
Bíblia, justificando suas práticas, mas fora do contexto, sem conhecer nem a
“avenida central”, tais religiosos caem no mesmo erro de Saulo de Tarso. Julgam
prestar serviço a Deus, mas na realidade suas práticas não proporcionam aos
seus conviventes o dispensar do próprio Deus, antes promovem o esvaziamento da
esperança no coração humano e contribuem ainda mais para a enorme confusão e
trevas que persiste em habitar na mente humana.
Oposto a tudo isso
existe o pleno conhecimento da verdade, na qual o homem busca a Deus
pessoalmente, crê, recebe o fato de que Jesus ressuscitou da morte, venceu-a e,
então tem o seu espírito humano regenerado porque devido à queda ( que é o
desligamento de Deus com o homem, observado no livro de Gênesis) o Espírito de
Deus não mais atuaria no homem. Na criação o espírito humano foi gerado no
homem, e quando tal homem crê, exercitando suas faculdades mentais na qual
habita o conhecimento de que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos, tal
homem tem o seu espírito humano regenerado, gerado novamente. O que antes era
apenas corpo e alma passa a ser contemplado por uma consciência superior, onde
a intuição e a comunhão com Deus são reavivadas. E é aí que mora um
entendimento superior: o Espírito passa a edificar uma morada no espírito.
Deus, que é Espírito (Deus é Triúno: Pai, Filho e Espírito, coexistindo de
eternidade à eternidade) entra no espírito humano (com a permissão e apoio da
alma e do corpo) e a partir de então o Espírito busca edificar o homem até o
ponto no qual tal homem expresse Deus, tenha um legítimo viver piedoso.
O livro escrito aos
Romanos pelo apóstolo Paulo nos conta a respeito da vida enxertada, e este é um
dos ótimos exemplos para que possamos compreender o “modus operanti” do
dispensar divino ao homem. Em Botânica, o enxerto consiste em duas “quase
morte”, duas feridas provocadas pelo agricultor, onde um ramo é retirado de uma
planta “A” (de oliveira brava, na Bíblia) e enxertada em outra planta (a
oliveira boa), uma planta “B”. O que é observado neste caso é que embora o ramo
da planta “A” possua uma natureza má, não é esta natureza que está suprindo-a,
mas sim a seiva de vida da planta “B”, a oliveira boa. Nisto podemos
compreender o que realmente significa o batismo e a cruz de Cristo. Batismo
significa morte, sepultamento. Quando a pessoa é imersa na água ela dá
testemunho de que sua natureza que herdou da humanidade é boa somente para ser
morta e sepultada, quer seja essa natureza boa ou má, porque devemos nos
lembrar do significado da palavra falsificação. Muitos pensam que após o
batismo a pessoa já irá praticar atos que provém de Deus, mas é apenas o começo
de uma transformação que perdurará por toda a vida do crente. O recém batizado
pode e deve expressar Deus em seu viver, mas lembre-se, isso deve ser o
resultado do dispensar do Espírito em seu espírito, caso contrário, é fake,
teatro, e, cedo ou tarde tal expressão definhará. Pense: O ramo morreu e agora
recebe outra seiva de vida, uma nova vida opera em seu ser, então esse ramo
revive e passa a expressar a vida que é originada na raiz da nova planta, a
oliveira boa. Assim fica possível compreender as Palavras de Paulo: Já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
Cabe aqui dizer que
a falta desse entendimento produz a assim compreendida e amplamente disseminada
religião humana, com suas muitas maneiras e disfarces, onde supostamente os
homens agradam a Deus, mas na verdade invertem os papéis, Deus se torna escravo
e o homem senhor. A vontade do homem é feita, e não a de Deus.
Esse novo viver,
do espírito humano mesclado ao Espírito divino é o que traz o reino de Deus
para a terra. Onde as virtudes do grão que era único, mas morreu e ressuscitou,
multiplicam-se cada vez mais. Jesus é o protótipo e os crentes são a sua
reprodução em massa, os muitos grãos que formam um só pão asmo.
As Escrituras
mostra o Deus Triúno querendo se doar ao homem. No arranjo divino o Pai fez o
plano, o Filho realizou esse plano e o Espírito busca aplicar esse plano na
vida dos que possuem a Sua vida. Como sábio mordomo Deus gerencia nossas vidas
para que esse dispensar possa ser contínuo e operar esse dispensar. Deus não
quer dar coisas ao homem, Ele deseja dar-se a si mesmo como o tudo para o
homem, as coisas, como lugares, pessoas e ocasiões são os meios para que o
homem possa perceber, receber e apoderar-se desse dispensar. Quando seus
crentes estão em Sua casa (que é a igreja, mas não um lugar físico específico)
esse dispensar é desenvolvido. O amor do Pai é manifestado na graça do Filho e
transmitido aos crentes na comunhão do Espírito. Deus está acessível ao homem,
a qualquer hora e em qualquer lugar. Antes Ele apresentou-se ao homem como a
árvore da vida, mas o homem não O tomou para dentro de si. Hoje essa árvore da
vida é Jesus, como a videira verdadeira e esta disponível a todos, basta
chama-lO.